sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A farsa da notícia

Já de muito tempo desconfio de tudo o que é noticiado na imprensa em geral. O monopólio dos meios de comunicação (e do que - e como - ser noticiado) está na mão de poucas famílias do país, que insistem em afirmar a 'isenção' de seu jornalismo, como exemplo o "Q" de qualidade da rede Globo (cujo significado para mim é de 'queda' de qualidade e audiência).
No último mês tive uma noção mais apurada do quanto as notícias são distorcidas e falseadas, a fim de manipular a opinião pública (que de pública tem muito pouco), por conta dos problemas causados pelas chuvas em Santa Catarina, que realmente causaram inúmeras perdas por conta das enchentes e escorregamentos que delas decorreram.
Acontece que a cheia do rio Itajaí-Açu não durou mais que 4 dias, isso nos locais mais atingidos. Mesmo assim emissoras como as redes Record e Globo continuaram a noticiar ainda por duas semanas o estado de 'calamidade' em que a região ainda se encontrava (segundo eles), com reprises intermináveis de imagens aéreas do primeiro e segundo dias de cheia, quando mais de 80% da área urbana de Itajaí estava ocupada pelas águas. Tudo isso sem explicar que se tratavam de imagens de arquivo e que as coisas pela região começavam a voltar a sua normalidade. Para moradores das áreas afetadas, que acompanharam o dia a dia dos eventos a realidade era diferente do que era mostrado nos telejornais de abrangência nacional, que muito preocupou amigos e parentes que a todo instante ligavam preocupados, achando que o nível das águas não havia abaixado.
Ontem pela manhã o "Q" da rede Globo se mostrou em sua plenitude: tiveram a coragem de reprisar um trecho de uma entrevista com uma funcionária do banco de sangue de Blumenau, exibida na rede local lá pelo dia 26/11, logo após a cheia, onde esta advertia para a escassez de bolsas de sangue para aquele dia e o dia seguinte. Pois este trecho foi reprisado ontem, dia 11/12 (mais de duas semanas depois de gravada), como se aquela fosse a situação do momento. O que me parece que na sede de lucrar com a tragédia eles esqueceram que seus noticiários nacionais também passam em Santa Catarina.
O pior de tudo não é o fato de que a imprensa quera lucrar com isso, é o mórbido interesse demostrado por imensa parcela da população pelo sofrimento alheio. A televisão adora esse interesse, incentivado por tomadas de câmera em closes nos olhos que choram a morte de amigos e familiares ou a perda de bens materiais alcançados com muito trabalho. É um 'sem número' de filmagens exibidas e páginas de jornais e revistas com o mesmo propósito, apenas de satisfazer essa vontade sádica que o ser humano tem (em maior ou menor grau) de ver pessoas sofrendo, seja por conta das perdas trazidas pela enchente ou famílias de vítimas da violência urbana, entre outros. Muitas vezes vejo pseudo-jornalistas (porque apenas o título acadêmico não quer dizer que o cara seja profissional) que, ao perceberem que talvez o choro não venha, fazem à pessoas simples, fragilizadas pelas misérias da vida, perguntas como: "Você está triste agora que perdeu sua mãe?", ou "É muito sofrimento, não é?", enquanto o cinegrafista aperta o close nas lágrimas que estão por vir.
Tudo isso apoiados no distorcido direito constitucional do brasileiro de 'ser informado', embora muitas vezes as questões relevantes à sociedade sejam deixadas de lado. Ou alguém já ouviu a rede Globo e grupos associados questionarem a real existência do tal grampo entre os telefones do Gilmar Mendes e do Demóstenes Torres, que foi motivo de capa da revista Veja e virou um escândalo, alimentado pelas principais empresas de comunicação.
Não, o povo quer ver na capa da Veja a foto de uma criança sobre fundo preto e o título " A Primeira Vítima", isso vende. Para quem compra: parabéns pela ajuda financeira que mantém a farsa em pleno funcionamento.
Parabéns a quem acha que a rede Globo tem realmente seu "Q" de qualidade.
Parabéns a quem compra, e vivas a quem assina, as revistas Veja, Istoé e Época.
Parabéns a quem acredita no que o portal Terra anuncia. A propósito, na quarta-feira (10/12) havia um link no Terra que dizia "Itajaí: 130 mil com risco de leptospirose" ou seja, praticamente 90% da população pode morrer (o que para eles e os demais citados seria ótimo, pois renderia muito mais choro para vender, no formato que você quiser comprar). Os fatos: 08 (oito) casos confirmados e menos de 50 suspeitos. Meio diferente do noticiado, não é?
Pra você que se enquadra nesse perfil, não deixe de visitar o blog do SurfHype, o maior blogueiro de São Paulo, e comprar tudo que ele anuncia por lá. Como trilha sonora da navegação eu sugiro a "Dança do Patinho" do BNegão.

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